segunda-feira, 25 de julho de 2011

O que houve Obama?

Barak obama2

Vai ser um fim-de-semana "quente". O presidente Obama reuniu na Casa Branca este sábado (23 de julho)com os lideres Republicanos e Democratas do Congresso durante, apenas, 50 minutos. Não houve fumo branco e as negociações vão prosseguir. O speaker Republicano John Boehmer espera poder haver um plano domingo à tarde (hora de Washington).
A sequência de acontecimentos a menos de seis dias do limite de 2 de agosto é impressionante. De rumores de entendimento entre Obama e os Republicanos passou-se a um rompimento na sexta-feira.
Foi, de facto, um Presidente claramente frustrado com os Republicanos que surgiu na sexta feira ao final da tarde (hora de Washington) na 3ª conferência de imprensa em duas semanas em torno do tema do momento na América: o risco de um default (incumprimento) na maior economia do mundo nas primeiras semanas de agosto se o teto de endividamento federal não for aumentado na próxima semana.
Apesar do corte de negociações na sexta-feira por parte do speaker Republicano John Boehner, o presidente norte-americano repetiu "We will not default" (Não entraremos em incumprimento), mas alertou que os "mercados reabrirão na segunda-feira" e que as agências de notação de risco poderão não esperar por tantos jogos políticos.
Alguns media da área de negócios titularam, logo, depois da conferência de Obama: "Será que os mercados entrarão em crash na segunda-feira?". O fantasma dos mercados caindo a pique regressou, começando na Ásia (quando ainda será domingo nos Estados Unidos) e acabando em Wall Street, em Nova Iorque.
Até há pouco tempo atrás a grande discussão nos Estados Unidos girava em torno da possibilidade de um double-dip (recaída na recessão) e dos efeitos - benéficos ou negativos - dos dois programas de "alívio quantitativo" prosseguidos pela Reserva Federal. Subitamente, surgiu a partir de meados de maio o tema do teto de endividamento e a palavra tabu "default" subiu à cena nos Estados Unidos, a economia do mundo onde seria suposto tal nunca acontecer.

Republicanos prisioneiros de grupo radical


"Coloquem a política de lado apenas por um minuto", apelou Obama que convocou para o dia seguinte uma reunião dos quatro líderes do Congresso - o próprio Boehner, que é o speaker (equivalente a presidente do Parlamento) da Câmara de Representantes, a líder democrata da minoria na Câmara, Nancy Pelosi, o líder da maioria democrata do Senado Harry Reid e o líder republicano da minoria do Senado Mitchel McConnell. Não foi referido se seria convocado o líder da maioria republicana da Câmara, Eric Cantor.
O presidente declarou que recuou até ao limite - inclusive no que já não era aceitável pelos democratas - nas negociações com Boehner, admitindo não aumentar impostos (mas sim aumentar a receita apenas alargando a base tributária e eliminando 'buracos') e aceitando cortar inclusive em programas de saúde e na segurança social. Obama salientou que havia dado o "sim" a um compromisso que ia para além da própria proposta do "grupo dos seis" - senadores democratas e republicanos que avançaram com uma plataforma bipartidária. Mas que Boehner não aceitou e que inclusive não respondeu a um telefonema do presidente, o que alguns analistas interpretaram como uma quebra no próprio relacionamento pessoal dos dois políticos - recorde-se que o speaker é o terceiro na hierarquia americana, depois do presidente e do vice-presidente.
A interpretação política dada por Obama sobre este rompimento por parte de Boehner é o facto do republicano estar prisioneiro de um grupo de pressão radical interno para quem "um default não é sequer problema".
Um dos congressista americanos que advoga abertamente o "default agora" é o republicano Ron Paul, candidato às presidenciais de 2012 e um dos mais acérrimos inimigos da Reserva Federal (banco central) e das suas políticas. Paul, em artigo publicado na sexta-feira na Bloomberg, afirmou "é preferível que seja mais cedo do que mais tarde" e com uma crise bem pior.

Bola de gelatina


O speaker, em resposta, meia hora depois, argumentou que o corte de negociações derivou do presidente, no último minuto, ter pedido mais 400 mil milhões de dólares em aumentos de impostos para além dos 800 mil milhões já acordados, que seriam obtidos através da reforma do sistema tributário. Acusou o presidente de não se ater a compromissos anteriores. Boehner disse ainda que "como pequeno empresário que fora sabia bem como mais impostos fazem mal". E que não recuaria nesse ponto.
"Negociar com a Casa Branca é como negociar com uma bola de gelatina", comentou Boehner, que se concentrará, agora, em procurar um entendimento no Senado, onde o plano republicano foi chumbado, depois de ter sido aprovado na Câmara de Representantes. O Senado tem maioria democrata e a Câmara maioria republicana.
Boehner, no entanto, sublinhou que estaria presente na reunião de sábado convocada pelo presidente e que "não acredita que o relacionamento [entre os dois] tenha ficado estragado em definitivo".
Alguns analistas sugeriram que os Republicanos aceitassem um acordo mínimo que permitisse no curto prazo uma extensão por algumas semanas - falou-se em 4 a 6 semanas - do teto de endividamento federal. Boehner respondeu, na conferência de imprensa que deu, que não aceitaria essa possibilidade. Mais uma porta que se fechou.

Plano B


Surge, assim, a possibilidade de um Plano B - o próprio presidente aumentar o teto de endividamento, caso necessário. "Tomarei a responsabilidade. Fá-lo-ei. Não vamos alimentar este jogo", disse, enfaticamente, o presidente. Poderá aumentá-lo em 2,5 biliões de dólares (2500 mil milhões de dólares).
Continua a apontar-se quarta-feira como o dia D para uma resolução legal.
Vários analistas referiram que este ambiente político confirmará as dúvidas das agências de rating que suspeitam que o sistema político americano não tem atualmente capacidade em lidar com o problema da dívida pública e do défice orçamental numa perspetiva de longo prazo, mesmo que chegue a uma solução de mais um aumento do teto da dívida até 2 de agosto.



Fonte: http://aeiou.expresso.pt/obama-nao-entraremos-em-default-video=f663682#ixzz1T8qVHksB

sábado, 9 de julho de 2011

Que escândalo, hein!

Alfredo Nascimento, ministro dos Transportes
Alfredo Nascimento, ministro dos Transportes (Antônio Cruz/ABr)

O afastamento da cúpula do Ministério dos Transportes por suspeita de corrupção pela presidente Dilma Rousseff no final de semana deixou o ministro Alfredo Nascimento(foto acima) em posição insustentável no comando da pasta, na avaliação de aliados do Palácio do Planalto no Congresso. A queda do ministro é esperada em breve pelos governistas e a oposição avalia a apresentação de um pedido de criação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o caso.
A rapidez com que Dilma atuou no episódio levantou ressentimentos na base. Parlamentares aliados previam, ontem, dificuldades futuras para a presidente na relação com os partidos que a apoiam no Legislativo. Eles sustentam que a presidente humilhou o PR, que comanda o Ministério dos Transportes, e fragilizou a confiança com a base pela forma com que agiu.
Dilma anunciou o afastamento assim que a revista Veja começou a circular com a denúncia sobre um esquema de cobrança de propinas na pasta, na manhã de sábado, sem dar chance ou prazo para explicações ao ministro Alfredo Nascimento. Esses fatos, avaliam governistas, revelam que Dilma já pretendia fazer mudanças no ministério e aproveitou a oportunidade.
Nos bastidores, as desconfianças com a presidente vão além. Setores da base afirmam não ter dúvidas de que as informações sobre o suposto esquema foram passadas à revista por integrantes do próprio governo.
Reportagem publicada pela revista revela o funcionamento de um esquema montado nos Transportes baseado na cobrança de propinas de 4% das empreiteiras e de 5% das empresas de consultoria que elaboram os projetos de obras em rodovias e ferrovias.
Foram afastados pelo governo o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antônio Pagot, o presidente da Valec Engenharia, José Francisco das Neves, o chefe de gabinete do ministério, Mauro Barbosa Silva, e o assessor Luís Tito Bonvini.

domingo, 3 de julho de 2011

Ricos no furacão

Na semana passada, o mundo olhou para os gregos enfurecidos, como se naqueles dias fosse ser definido o futuro da moeda que uniu a Europa. Quem acompanha a economia respirou aliviado quando soube que o Congresso americano suspendeu o recesso. Há chance de que os Estados Unidos entrem em moratória. Deu a louca nos ricos? Euro e dólar tiram o sono do planeta.
Os americanos têm dificuldade de entender certo tipo de crise. Eles sabem o que é depressão, mas incapacidade de pagar dívida pública ou uma crise monetária são fatos estranhos para eles. Sempre tiveram o privilégio de emitir dívida na própria moeda e o mundo sempre comprou; há décadas o dólar é a moeda de referência do mundo.
Agora, fala-se em moratória na dívida americana. Mas não de um calote como o grego. Se acontecer, será resultado da briga política dentro do congresso, que não quer aprovar a elevação do limite do endividamento do governo. Reunidos no recesso, os parlamentares podem fechar um acordo para tirar o país dessa situação estranha. Se bater no limite, e eles não puderem fazer mais dívida, o que exatamente acontece? O mundo não sabe bem. A economista Monica de Bolle diz que a economia entraria em curto-circuito, porque a dívida americana e o dólar são os dois ativos que servem como referência para o risco zero. Se não forem mais risco zero, tudo tem que ser revisto: de ativos dos fundos de pensão até classificações de risco de dívida.
Isso acontece num momento em que o último dos moicanos do supertime econômico do presidente Barack Obama está, aparentemente, arrumando as malas. O secretário do Tesouro, Timothy Geithner, desmentiu que está de saída, mas na quinta-feira todo o noticiário especializado de economia dos Estados Unidos estava acreditando no rumor que circulava.
Em última instância, basta aos Estados Unidos imprimir papel para ter dólares. Então, o que se discute não é a capacidade financeira do país, mas a autorização do Congresso para que o Tesouro faça novas dívidas para cobrir seus gastos atuais. É uma boa hora de lembrar uma velha lei da economia que sempre serviu para todos: não se deve gastar além das possibilidades.
O déficit do governo Obama este ano será o terceiro maior do período pós-guerra. Os dois maiores foram nos dois últimos anos. Isso fez a dívida pública estourar o limite estabelecido pela lei americana, que é de US$ 14,3 trilhões. Foi quando surgiram o impasse e o risco. Os republicanos, que defendem a austeridade, foram os mesmos que pegaram o país com superávit orçamentário e entregaram com déficit e a economia em frangalhos. Mas, com Obama candidato à reeleição, aproveitam.
Esse limite de endividamento, segundo o banco americano Morgan Stanley, já foi elevado 80 vezes desde 1917.
Obama herdou um país em recessão, atolado em duas guerras, com os bancos falidos, as famílias endividadas e o mercado imobiliário em depressão. Abriu o cofre para tentar reativar a economia. Ao mesmo tempo, não conseguiu reduzir o orçamento da Defesa e aprovou uma nova lei de seguridade social que ampliará os gastos com saúde.
Pelos cálculos do Instituto Watson de Estudos Internacionais, da Brown University, o custo com as guerras do Afeganistão e do Iraque, nos últimos 10 anos, chegou a US$ 3,7 trilhões. O gasto do ministério da Defesa, na verdade, é maior, segundo as contas da Tendências consultoria. O orçamento da pasta que em 2001 foi de US$ 314 bilhões havia mais que dobrado em 2010, para US$ 707 bilhões. Ao todo, o ministério consumiu em 10 anos cerca de U$ 5,2 trilhões (vejam o gráfico abaixo).
Outro nó é a dívida dos estados e municípios, que também é enorme. Estados como Califórnia, Illinois e Flórida estão com problemas desde antes da crise financeira de 2008. O economista Roberto Almeida Prado, do Itaú Unibanco, calcula que mais de 550 mil funcionários públicos já foram demitidos desde 2009 em estados e municípios, agravando ainda mais o quadro de desemprego. Arizona, Michigan e Tennessee estão com receitas 17% menores que 2007, segundo o site politico.com. Califórnia e Flórida, com arrecadação 18% menor.
A Grécia vive a ressaca da sensação de que tinha ficado rica ao entrar na União Europeia. Outros países da região se sentiram assim quando o custo de financiamento da dívida caiu muito. É diferente emitir dracma, escudo, peseta, ou ter como moeda o euro. A Alemanha, que tudo aprendeu na sua história sobre valor da estabilidade monetária, emprestou essa credibilidade a todos. Eram todos alemães, até que a crise americana mostrou que há também gregos, portugueses, espanhóis, irlandeses.
A farra grega foi enorme: de 14 a 18 salários por ano, dependendo da categoria, endividamento familiar alto, dívida e déficit escondidos com a ajuda de consultorias americanas, aposentadoria precoce.
Americanos e gregos — entre outros — gastaram mais do que podiam. Na vida pessoal e coletiva. Essa é a síntese da origem de todas as crises. Há diferenças enormes entre eles.
Os Estados Unidos vão chegar a um acordo no Congresso, elevar o teto da dívida e continuar emitindo a moeda que por enquanto ainda é a referência. Não o será para sempre. Os gregos vão entrar em moratória. O parlamento deu apenas um tempo para a Europa encontrar uma saída organizada.
Para nós, ficam dois alertas. Primeiro: melhor é ter as contas controladas. Públicas e privadas. Segundo: o mundo está mudando espantosamente e alguns dos países mais ricos do mundo estão no meio do furacão. É tempo de ficar atento e saudável.

sábado, 25 de junho de 2011

Entenda a crise financeira na Grécia

Margarita Kiau/EFEMargarita Kiau/EFE
Manifestantes em frente à sede do Parlamento grego em Atenas
A crise da Grécia é resultado do endividamento público, que se aprofundou em razão da crise financeira mundial: sua dívida é maior que o próprio PIB (Produto Interno Bruto), a soma de tudo que um país produz. É a mesma situação que enfrenta um cidadão comum que já gastou todo o salário e recorre a todos os limites de cartão de crédito e de cheque especial: ele fica sem ter de onde tirar recursos para quitar todas as suas dívidas.
Em 2009, segundo estimativas, o país acumulou uma dívida de R$ 704 bilhões (300 bilhões de euros). Ou seja, fechou o ano devendo mais do que gerou de riquezas - em 2009, o PIB grego chegou a cerca de R$ 600 bilhões (255,3 bilhões de euros), segundo dados do CIA World Factbook (compilação de dados feita pela Agência Central de Inteligência dos EUA). A dívida pública de um país é composta pelos empréstimos tomados pelo governo que ainda precisam ser pagos.
Como membro da zona do euro, a Grécia vinha sendo cobrada para controlar suas finanças, mas continuou a emitir papéis de dívida e a se envolver mais em ganhos no mercado financeiro, apoiada na credibilidade da zona do euro junto a investidores estrangeiros.
Com a crise que abalou a economia mundial, o país passou a enfrentar problemas para arrecadar impostos, uma vez que empresas começaram a quebrar, o desemprego aumentou e o consumo caiu. Com isso o chamado déficit (quando mais dinheiro sai do que entra) no Orçamento do país cresceu, e a capacidade de pagar seus credores ficou comprometida.

Nesse cenário entram o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a UE (União Europeia): o primeiro porque tem a missão de ajudar países com dificuldades de pagar suas dívidas - em geral exigindo em troca medidas como cortes de gastos públicos e aumentos de impostos. Medidas assim são extremamente impopulares, como mostram as séries de greves na Grécia nos últimos meses contra as ações do governo para sanear as contas.

Outro problema que a presença do FMI coloca é o efeito sobre a confiança dos investidores no país a ser ajudado: países nessa condição costumam ser vistos com cautela, o que resulta em cobranças de juros maiores em empréstimos, dificultando ainda mais a situação.
O segundo porque o rombo nas contas da Grécia pode comprometer outros países com situação financeira frágil e fortemente abalados pela crise global - como Portugal, Espanha e Irlanda.
 
 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

As consequências da inflação

As principais consequências da inflação
  • A inflação elevada e volátil provoca incerteza e faz aumentar os riscos, facto que impede o crescimento económico.
  • A inflação dá origem à perda do poder de compra das pessoas, fazendo com que estas fiquem mais pobres.
  • A inflação elevada ou as expectativas de inflação elevada podem fazer com que as empresas passem a evitar mais os riscos e tenham menos propensão para realizar investimentos a longo prazo.
Na Alemanha, em 1923, os preços duplicavam de dois em dois dias e os trabalhadores eram pagos duas vezes ao dia para que pudessem comprar comida e bens antes de os preços voltarem a subir. Trata-se de um dos exemplos mais espectaculares da história no que diz respeito às consequências negativas da inflação.
A inflação elevada e volátil é prejudicial para a economia, consumidores e empresas. A manutenção da inflação a um nível baixo é um objectivo dos responsáveis pelas políticas económicas de todo o mundo.
Mas qual é realmente o significado da inflação para a sociedade?

Volatilidade e incerteza

Se as taxas de inflação forem baixas, estáveis e estiverem dentro das expectativas das empresas e consumidores, a inflação não causa grandes problemas. No entanto, um dos efeitos importantes da inflação é a incerteza que causa quando a taxa de inflação é volátil, ou seja, quando as variações de preços são muito acentuadas ao longo do tempo. A inflação volátil pode ser provocada por fortes oscilações da oferta e/ou procura na economia, por exemplo, as matérias-primas como os produtos agrícolas ou o petróleo, elementos fundamentais para muitos aspectos da vida e trabalho diários.
As taxas de inflação voláteis e imprevisíveis dificultam a realização de planos a longo prazo por parte dos consumidores e empresas. Assim, desencorajam os investimentos e as poupanças, criando ineficiências no mercado.

Inflação e consumidores

Um dos efeitos mais importantes da inflação é o facto de reduzir o valor do dinheiro com o passar do tempo, o que significa que o dinheiro e o dono do dinheiro registam uma perda do "poder de compra". Se o preço do pão subir todos os anos, então, com o mesmo dinheiro pode comprar-se menos pão ou será necessário mais dinheiro para se comprar a mesma quantidade de pão. Genericamente falando, quando os preços sobem, o rendimento das pessoas perde o seu poder de compra porque elas passam a poder comprar menos bens, passam menos férias no estrangeiro e, em geral, sobrevivem com menos se o seu rendimento não subir ao mesmo ritmo. Esta perda do poder de compra afecta não só os consumidores e os agregados familiares, como tem também consequências para as empresas e governos.
Outra das consequências da inflação elevada ou das expectativas de inflação elevada é o facto de as pessoas têm menos propensão para poupar dinheiro para o futuro. Isto acontece porque a inflação poderia reduzir o poder de compra das poupanças ao longo do tempo. Neste caso, as pessoas que poderão, na realidade, pretender poupar para o futuro preferem, na prática, gastar o seu dinheiro agora.

Inflação e mutuários

A maior parte das pessoas aspira a ter a sua própria casa e, por isso, a forma mais comum de concretizar esta aspiração é pedir dinheiro emprestado a um banco através de uma hipoteca. As hipotecas são pagas ao longo de muitos anos e o nível das taxas de juro está geralmente relacionado com a taxa de inflação. Contudo, se houver incerteza acerca da inflação futura, os mutuantes poderão pretender "segurar-se" contra uma inflação futura superior às expectativas por via do aumento das taxas de juro ou concedendo os empréstimos com uma taxa de juro variável. Por isso, embora os reembolsos do empréstimo possam parecer razoáveis no momento da concessão do empréstimo, com uma taxa de juro variável, uma taxa de inflação volátil em anos posteriores pode levar a subidas acentuadas nas prestações regulares, montantes que saem do orçamento do agregado familiar. A perspectiva de uma taxa de inflação volátil confere um elevado grau de incerteza àquilo que é, eventualmente, a maior de todas as despesas dos agregados familiares. Consequentemente, quando a inflação é elevada e volátil, os mutuários deparam-se com uma maior incerteza e, por vezes, custos mais elevados – quer sejam famílias jovens que compram a sua primeira casa, pequenas empresas que pretendem expandir-se, quer sejam governos que pretendem obter financiamento para a construção de hospitais ou estradas.
Para os mutuários, uma inflação elevada e volátil tem como consequência uma tomada de decisões económicas mais arriscada, custos mais elevados e escolhas mais limitadas.

Inflação e empresas

Geralmente, para se desenvolverem e crescerem, as empresas precisam de condições económicas positivas, incluindo uma inflação baixa e estável. Isto explica-se porque as empresas planeiam as suas actividades e investimentos, como em novas máquinas e unidades fabris, com alguns anos de antecedência. De facto, para as grandes empresas, o planeamento dos investimentos futuros pode abranger décadas. Se a inflação for elevada ou se houver perspectivas de que venha a ser elevada, as empresas ficam perante incertezas muito grandes porque a variação do valor do dinheiro significa que as empresas não obtêm segurança quanto aos seus custos e receitas futuros. Em resposta, passam a ter uma ponderação muito maior.
A inflação elevada ou as expectativas de inflação elevada podem provocar uma subida dos custos das empresas mais rápida que os seus ganhos de produtividade e levar a que os empresários passem a evitar os riscos e sejam menos abertos a investir no futuro, reduzindo, assim, a competitividade. Este facto tem um impacto negativo no crescimento económico e no emprego.

A inflação e a UE

As décadas antes da introdução do euro caracterizaram-se por uma inflação elevada e volátil, custos de obtenção de crédito elevados e criação de emprego relativamente baixa. Esta é a razão por que um dos objectivos primordiais da UE e dos seus Estados-Membros é manter a inflação baixa e estável. Durante os preparativos para a introdução do euro e, subsequentemente, após a sua adopção, foi criada uma conjuntura com uma inflação baixa e estável.

sábado, 21 de maio de 2011

Soluções milagrosas


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    Várias análises apostam na elevação da Selic e nos cortes de despesas do governo federal como a solução para conter a inflação neste ano. Não creio.
    O País já está acompanhando a elevação da inflação que está ocorrendo em todos os países, desde setembro do ano passado, por causa da elevação dos preços dos alimentos e commodities. Infelizmente, não deveremos ser uma exceção diante dessa realidade internacional.
    Na China, a inflação nos últimos 12 meses atingiu mais de 10% nos alimentos; 4,9%, ao consumidor; e 6,6%, ao produtor. Os países desenvolvidos, no entanto, estão mais preocupados em retomar o crescimento. O banco central britânico praticamente abandonou a luta no curto prazo. As autoridades americanas estão ignorando tanto a queda da taxa de desemprego como a inflação de 4,1% nos preços de atacado. O Banco Central Europeu apenas registrou a elevação da inflação, que passou de 0,9% para 2,4% nos últimos 13 meses.
    Como agravante, neste início de ano a inflação no Brasil é sazonalmente mais elevada, por causa das chuvas que afetam a produção de alimentos in natura, dos reajustes das tarifas do transporte coletivo e das despesas com material escolar e o IPTU e IPVA. Em 2010 a inflação do primeiro quadrimestre respondeu por 44,8% da inflação anual. Se não houvesse sazonalidade, seria de 33,3%.
    Essa sazonalidade pode levar a equívocos nas projeções da inflação anual, ficando o Banco Central (BC) pressionado pelo mercado financeiro a elevar a taxa de juros. Caso resista a essa pressão, é acusado de agir com atraso, o que exigiria uma dose mais forte de elevação da taxa para compensar essa "falha".
    Fato interessante ocorreu no ano passado, quando aconteceu, no último quadrimestre, uma escalada de preços de alimentos e commodities no mundo todo. O BC foi pressionado a elevar a taxa de juros e, como não se dobrou à pressão do mercado financeiro, foi acusado de ter agido politicamente por causa das eleições. Fato é que o BC em sua ata de 8 de dezembro ressaltava que "os efeitos do ajuste na taxa Selic ainda não foram inteiramente incorporados à dinâmica dos preços. Adicionalmente, medidas macroprudenciais recentemente anunciadas, um instrumento rápido e potente para conter pressões localizadas de demanda, ainda terão seus efeitos incorporados à dinâmica dos preços".
    O BC sempre manifestou em suas atas que a alteração da Selic leva mais de seis meses para produzir efeito sobre a inflação. Como as elevações da Selic ocorreram de maio a julho, só no início deste ano se poderia ter uma avaliação do efeito. Por outro lado, foram criadas a partir do dia 6 de dezembro as medidas macroprudenciais, cujos efeitos precisavam ser apurados.
    Isso, no entanto, não foi suficiente para satisfazer o mercado financeiro e a pressão sobre o BC se elevou ainda mais, forçando, já a partir de 20 de janeiro, a primeira elevação da Selic, numa perspectiva de novas elevações nas próximas reuniões do Copom.
    Discute-se muito a questão da autonomia operacional do BC em relação ao governo federal, especialmente em relação ao Ministério da Fazenda. Mas a verdadeira pressão, que empana essa autonomia, está no mercado financeiro, o maior interessado em manter a Selic em níveis elevados e crescentes como solução milagrosa para domar a inflação.
    A única forma eficaz de atuação da Selic, para evitar uma escalada maior da inflação, tem sido a valorização do real que reduz os preços dos produtos importados. Mas essa saída está esgotada por causa dos prejuízos causados na indústria nacional e nas contas externas. O argumento muito utilizado nas decisões sobre a Selic - formar as expectativas dos agentes do mercado para indicar o rumo da inflação - vem sendo frustrado, ante a realidade maior que é a inflação vinda de fora dos alimentos e commodities - que respondem por mais da metade da inflação - e da indexação da inflação ocorrida no passado, como no caso do reajuste dos aluguéis, baseado no IGP-M, que cresceu 11,5% em 2010.
    Outra solução milagrosa é acreditar que o corte de R$ 50 bilhões nas despesas do governo irá contribuir para reduzir a demanda, permitindo ao BC o conforto de elevar menos a Selic. Esse corte, embora necessário, representa apenas 1,2% (!) da demanda.
    Além do mais, essas duas "soluções" se contradizem, pois, com o aumento da Selic, previsto para este ano, aliado à elevação das reservas internacionais e de aportes ao BNDES, que elevam a dívida bruta do governo, é possível que os juros gerados atinjam mais da metade (!) desse corte de R$ 50 bilhões.
    Embora talvez não resolvam o problema da inflação mais elevada nesse ano, as medidas macroprudenciais são mais eficazes e rápidas do que as soluções milagrosas da Selic e do corte das despesas federais. Essas medidas atingiram o cerne de uma das pernas do impulso da demanda que é a expansão e o custo do crédito, como ficou demonstrado pelo BC no dia 9 de fevereiro.
    É fundamental aprofundar as discussões sobre as causas da inflação para evitar soluções que, aparentemente, têm significado, mas que, na prática, não funcionam. Todo cuidado é pouco com as soluções milagrosas.
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domingo, 15 de maio de 2011

UM DEBATE SOBRE A INFLAÇÃO


A inflação é o resultado de qualquer desequilíbrio econômico. Não é uma problemática de hoje. A inflação foi, sentida a partir do momento em que se começou a usar instrumentos monetários, quer dizer, os elementos que servirão como meio de troca. E por falar em meios de troca, é preciso que se faça uma digressão neste sentido, para que se possa entender a filosofia da economia nas suas diversas correntes. Em uma concepção simples, tem-se que, a economia é o estudo de como os homens e a sociedade decidem, com ou sem a utilização do dinheiro, empregar recursos produtivos escassos, que poderiam ter aplicações alternativas, para produzir diversas mercadorias, ao longo do tempo e distribuí-las para consumo, agora e no futuro, entre diversas pessoas e grupos da sociedade,
segundo a visão de SAMUELSON (1975) que tornou a definição de economia o mais abrangente possível; pois, este ponto de vista enxerga a economia, conseqüentemente a possibilidade de problemas no organismo econômico que possam causar inflação.
Todavia, sabe-se que os princípios econômicos não são de hoje. Datam de muitos e muitos séculos. Pode-se dizer, tem origem nos primitivos homens habitantes da terra, como o homem de Java (pithercanthropus erectus), e o homem de Pequim (Homo pekinensis). Nesse tempo, a economia era uma economia natural, não havia excedente e a luta de classes era uma coisa que não existia. Foi uma época onde não era patente o meio de troca, porque a economia era de auto-consumo, isto é, de produção para sobrevivência. Esse estágio de vida durou muito e muito tempo, como é próprio de mudanças que não acontecem do dia para a noite; mas, de séculos e séculos, devido às  transformações serem estruturais e não impostas por partidos políticos, ou ditador qualquer. O mundo acompanhou diversas fases até hoje, entretanto, foi a própria história que se encarregou de fazê-la, no transcurso do tempo.
O dinheiro surgiu do aparecimento do excedente. A necessidade de algo que ficasse no meio entre o processo de compra e de venda. Esse instrumento a princípio era qualquer produto que pudesse ser equivalente e, assim apareceram o peixe fresco, o cigarro, o boi, o chá, etc., como intermediário de troca. A fase dos metais proporcionou uma maior facilidade nas transações comerciais, devido às características próprias para uma boa utilização como moeda. Com o desenvolvimento da fase metálica, a moeda passou a ser fiduciária como as moedas-papéis, os papéis-moedas e os cheques, quando se conseguiu seu espaço. Isto foi no passado e é hoje um dos maiores problemas que a economia monetária tem enfrentado, isto é, o excesso de moeda no sistema econômico. Contudo, uma moeda que não cause problemas ainda é hoje muito discutida, pois, não se tem uma perspectiva de solução para tal caso.
Foi nesse contexto monetário que surgiu a inflação. A inflação se processa de diversas maneiras. Ela existe por pressão de demanda. Isto significa dizer que a demanda é maior do que a oferta, isto é, muita gente procurando produtos e não o existindo no mercado; implica, entretanto, num aumento de preços e quando isto acontece sucessivamente, tema-se a inflação de demanda. A inflação também pode surgir por pressão de oferta, quer dizer, a oferta aumenta os preços, porque os sindicatos pressionam a um aumento de salário, que foi concedido pelo empresário, e, conseqüentemente, repassando ao consumidor final. Finalmente, a inflação se processa de maneira administrada, isto é, o controle de preços pelo governo de maneira excessiva, gera por debaixo dos panos, esse mal, que tanto atormenta a nação.
A questão fundamental, é que a inflação constitui um resultado do problema, vindo do próprio conceito de economia, quer dizer, a alocação dos recursos, a distribuição da produção à comunidade e, em especial, quem participa do mercado direta ou indiretamente. Para uma economia oligopolizada, fica difícil um controle da inflação sem a interveniência consciente das comunidades das diversas classes sociais. Em um oligopólio, o poderio dos trustes é imenso, porque eles constituem um monopólio disfarçado e, sendo assim, eles manuseiam os seus mercados, e seu preço; no entanto, o consumidor age de acordo com um sistema que esteja em competição perfeita, sem poder e sem força, apenas sendo levado pelo aliciamento de marketing, da televisão, de out-doors, de jornais, de revistas, etc,. O empresário determina preços, o consumidor só faz aceitar.
A preocupação em combater a inflação não é de agora. Ela decorre de muito tempo, pois, vem da era mercantilista a tentativa de acabar com a inflação que já campeava na Europa. Sabe-se que, quando se começou a utilizar o metalismo como moeda, o excesso de moeda, fez com que o nível geral dos preços subisse de maneira assustadora, chegando a níveis nunca vistos na história econômica mundial. Foi a partir daí que se constatou que o excesso de metais gerava inflação. Este é o princípio monetarista da formação inflacionária. A história relata exemplos fantásticos de hiper-inflação, como é o caso dos assignats da Revolução Francesa de 1716, dos greenbacks da guerra de Secessão Americana de 1862 e das grandes inflações alemãs (1921-23), húngara (1945), chinesa (1948), e muitas outras que a história divulga com muita facilidade para servir de exemplo para outros países.
Na atualidade, a inflação é debatida por duas correntes bem particulares e coerentes, tais como a monetarista e a estruturalista. A corrente monetarista está montada em três proposições fundamentais de grande relevância, tais como:
a) a demanda de moeda é função estável, ou seja, nega-se a instabilidade keynesiana do investimento, que implicaria, pela lei de Walras (1874), a instabilidade de demanda de algum outro bem, em particular da demanda da moeda; b) afirma que o estoque de moeda é controlável pelas autoridades monetárias e, c) as economias de mercado são estáveis, no sentido de que os desvios em relação à posição de pleno emprego, são sempre (eventualmente) eliminados pelo sistema de preços estabelecidos nos diversos mercados,
de acordo com o pensamento de BARBOSA (1983) com respeito à explicação dessa questão, tão importante ao conhecimento dos participantes da economia globalizada.
No entanto, quanto à questão dos estruturalistas, ainda buscando uma explicação de BARBOSA em suas investigações sobre o problema da inflação, onde ele diz objetivamente que
a inflação resulta de modificações estruturais na economia que provocam mudanças de preços relativos, às quais, aliadas à rigidez de preços em alguns setores da economia (principalmente no moderno setor industrial oligopolizado, cujos preços são fixados através de uma regra de “mark-up”, segundo a qual se adiciona ao custo unitário de produção, uma margem bruta de lucro) e a passividade monetária, levam à subida dos preços obsoletos.
Inegavelmente, a inflação também traz aspectos de desajuste estrutural, isto significa dizer, os despilfarros sistêmicos que aparecem em uma nação, especialmente quando ela é muito extensa, necessitando um acompanhamento direto para evitar os desajustes.
Estas duas correntes ainda se encontram em luta constante pelo combate das desigualdades que desequilibram a economia e causam os diversos problemas que a economia mundial enfrenta no dia-a-dia. São duas correntes que se completam, apesar dos métodos diferentes. Os monetaristas dizem que aumentando, ou diminuindo a quantidade de moeda, verifica-se uma mudança na taxa de juros, nos investimentos, no nível de emprego e, por conseqüência, na produção e na renda nacionais, acompanhadas por mudança mais que proporcional na demanda agregada, gerando aumentos sucessivos de preços, que culminam com a inflação. Entretanto, os estruturalistas receitam para o caso somente de mudanças no setor real da economia, quando há sazonalidades regionais, e alguns outros problemas estruturais, que estejam afetando a agricultura, a indústria e o comércio, cuja moeda passa a ser uma variável endógena ao sistema.
Outrossim, sabe-se que os estruturalistas não resolveram a questão por completo e nem tão pouco os monetaristas com suas terapias. Ambos tiveram as suas razões, quanto ao seu método utilizado. Mas, qual será a solução para uma economia inflacionária? O governo baixa constantemente decretos contra a inflação. Será que resolve? A princípio parecem corretas, contudo, são sempre golpes contra a economia de mercado que não duram muito tempo. É justamente o que acontece em economias periféricas. A inflação do passado morreria por ordens governamentais. Aparentemente começaria tudo de novo. Tal não se verificou na realidade, simplesmente porque o poder oligopolístico não aceita uma nova estrutura que venha de encontro aos seus interesses. Sempre que aparecem decretos, o poder de mercado reage mais bravamente. Nisto surgem formas novas de roubos, aliciamentos e subornos na economia. Oficializa-se a corrupção econômica generalizada.
É difícil ter soluções para problemas que culminam com inflação tentando mexer somente nas variáveis diretas e próximas ao aumento generalizado de preços. A inflação é apenas o termômetro da economia e, como tal, não se resolve com o manuseamento de instrumentos próximos à inflação; entretanto, uma maior probabilidade de solução ao caso, é quando se vai a normas do sistema econômico como um todo. Isto significa dizer que, deve-se levar em consideração no debate de discussão, quanto ao problema da inflação, uma lista bem maior de variáveis que influem no aparecimento da inflação, tais como, distribuição de renda, disparidades regionais, a própria divisão de classes sociais, o nível de conscientização da população e muitas outras variáveis de fundamental importância no combate à inflação.
É verdade que essas variáveis são primordiais, todavia, são de difícil, ou até mesmo, impossíveis de medição, considerando-se o seu poder qualitativo de influência no seu contexto geral. A manipulação destas variáveis, não depende de decreto e nem de decisão de um empresário, ou de outro, em separado; porém, de uma estrutura política e do poder de organização das diversas classes sociais. Sem se levar em consideração a questão dos princípios, costumes e éticas sociais, não se pode ter um combate à inflação, eficaz e duradouro, apenas um paliativo. Finalmente, tem-se que combater é o poder dos oligopólios, a ditadura dos bancos e distribuir eqüitativamente a renda nacional, para que se possa sentir a diminuição da inflação e o equilíbrio da economia nacional, com mais investimentos, mais produção e maior bem-estar para o seu povo.