Vai ser um fim-de-semana "quente". O presidente Obama reuniu na Casa Branca este sábado (23 de julho)com os lideres Republicanos e Democratas do Congresso durante, apenas, 50 minutos. Não houve fumo branco e as negociações vão prosseguir. O speaker Republicano John Boehmer espera poder haver um plano domingo à tarde (hora de Washington).
A sequência de acontecimentos a menos de seis dias do limite de 2 de agosto é impressionante. De rumores de entendimento entre Obama e os Republicanos passou-se a um rompimento na sexta-feira.
Foi, de facto, um Presidente claramente frustrado com os Republicanos que surgiu na sexta feira ao final da tarde (hora de Washington) na 3ª conferência de imprensa em duas semanas em torno do tema do momento na América: o risco de um default (incumprimento) na maior economia do mundo nas primeiras semanas de agosto se o teto de endividamento federal não for aumentado na próxima semana.
Apesar do corte de negociações na sexta-feira por parte do speaker Republicano John Boehner, o presidente norte-americano repetiu "We will not default" (Não entraremos em incumprimento), mas alertou que os "mercados reabrirão na segunda-feira" e que as agências de notação de risco poderão não esperar por tantos jogos políticos.
Alguns media da área de negócios titularam, logo, depois da conferência de Obama: "Será que os mercados entrarão em crash na segunda-feira?". O fantasma dos mercados caindo a pique regressou, começando na Ásia (quando ainda será domingo nos Estados Unidos) e acabando em Wall Street, em Nova Iorque.
Até há pouco tempo atrás a grande discussão nos Estados Unidos girava em torno da possibilidade de um double-dip (recaída na recessão) e dos efeitos - benéficos ou negativos - dos dois programas de "alívio quantitativo" prosseguidos pela Reserva Federal. Subitamente, surgiu a partir de meados de maio o tema do teto de endividamento e a palavra tabu "default" subiu à cena nos Estados Unidos, a economia do mundo onde seria suposto tal nunca acontecer.
Republicanos prisioneiros de grupo radical
"Coloquem a política de lado apenas por um minuto", apelou Obama que convocou para o dia seguinte uma reunião dos quatro líderes do Congresso - o próprio Boehner, que é o speaker (equivalente a presidente do Parlamento) da Câmara de Representantes, a líder democrata da minoria na Câmara, Nancy Pelosi, o líder da maioria democrata do Senado Harry Reid e o líder republicano da minoria do Senado Mitchel McConnell. Não foi referido se seria convocado o líder da maioria republicana da Câmara, Eric Cantor.
O presidente declarou que recuou até ao limite - inclusive no que já não era aceitável pelos democratas - nas negociações com Boehner, admitindo não aumentar impostos (mas sim aumentar a receita apenas alargando a base tributária e eliminando 'buracos') e aceitando cortar inclusive em programas de saúde e na segurança social. Obama salientou que havia dado o "sim" a um compromisso que ia para além da própria proposta do "grupo dos seis" - senadores democratas e republicanos que avançaram com uma plataforma bipartidária. Mas que Boehner não aceitou e que inclusive não respondeu a um telefonema do presidente, o que alguns analistas interpretaram como uma quebra no próprio relacionamento pessoal dos dois políticos - recorde-se que o speaker é o terceiro na hierarquia americana, depois do presidente e do vice-presidente.
A interpretação política dada por Obama sobre este rompimento por parte de Boehner é o facto do republicano estar prisioneiro de um grupo de pressão radical interno para quem "um default não é sequer problema".
Um dos congressista americanos que advoga abertamente o "default agora" é o republicano Ron Paul, candidato às presidenciais de 2012 e um dos mais acérrimos inimigos da Reserva Federal (banco central) e das suas políticas. Paul, em artigo publicado na sexta-feira na Bloomberg, afirmou "é preferível que seja mais cedo do que mais tarde" e com uma crise bem pior.
Bola de gelatina
O speaker, em resposta, meia hora depois, argumentou que o corte de negociações derivou do presidente, no último minuto, ter pedido mais 400 mil milhões de dólares em aumentos de impostos para além dos 800 mil milhões já acordados, que seriam obtidos através da reforma do sistema tributário. Acusou o presidente de não se ater a compromissos anteriores. Boehner disse ainda que "como pequeno empresário que fora sabia bem como mais impostos fazem mal". E que não recuaria nesse ponto.
"Negociar com a Casa Branca é como negociar com uma bola de gelatina", comentou Boehner, que se concentrará, agora, em procurar um entendimento no Senado, onde o plano republicano foi chumbado, depois de ter sido aprovado na Câmara de Representantes. O Senado tem maioria democrata e a Câmara maioria republicana.
Boehner, no entanto, sublinhou que estaria presente na reunião de sábado convocada pelo presidente e que "não acredita que o relacionamento [entre os dois] tenha ficado estragado em definitivo".
Alguns analistas sugeriram que os Republicanos aceitassem um acordo mínimo que permitisse no curto prazo uma extensão por algumas semanas - falou-se em 4 a 6 semanas - do teto de endividamento federal. Boehner respondeu, na conferência de imprensa que deu, que não aceitaria essa possibilidade. Mais uma porta que se fechou.
Plano B
Surge, assim, a possibilidade de um Plano B - o próprio presidente aumentar o teto de endividamento, caso necessário. "Tomarei a responsabilidade. Fá-lo-ei. Não vamos alimentar este jogo", disse, enfaticamente, o presidente. Poderá aumentá-lo em 2,5 biliões de dólares (2500 mil milhões de dólares).
Continua a apontar-se quarta-feira como o dia D para uma resolução legal.
Vários analistas referiram que este ambiente político confirmará as dúvidas das agências de rating que suspeitam que o sistema político americano não tem atualmente capacidade em lidar com o problema da dívida pública e do défice orçamental numa perspetiva de longo prazo, mesmo que chegue a uma solução de mais um aumento do teto da dívida até 2 de agosto.
Fonte: http://aeiou.expresso.pt/obama-nao-entraremos-em-default-video=f663682#ixzz1T8qVHksB